quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Momento Ego.

Tenho vida emocional: intensa, vida que pensa: intensa, vida que abstrai: intensa, vida interior: intensa. Andei pensando (muito intensamente) que tudo que é exterior à mim é um tanto acidental, coincidente, impulsivo, expansivo, abosolutizado. Enfim, um tanto quanto superficial. Mas, tudo bem. Afinal, ninguém é cem por cento fogo intenso e nem água gelada. Equilibradamente, me ofereço como uma xícara de chá.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A Bola Certa é a Bola Branca

Quatro mulheres e um desejo: jogar sinuca e só. Uuuuuu, que ousadas.
Ambiente escuro, rock pauleira e uma maioria esmagadora de homens.
Meio desconfortáveis, falávamos:
- Ambiente Misógino, não?
- sim, muito.
- então, pratiquemos a misoginia às avessas.
Risinhos depois, fomos em busca de uma mesa, ali começava a batalha.
Ficamos por um minuto em pé, até que uma vagasse. O minuto mais longo de nossas vidas, nos sentíamos olhadas, não só olhadas, mas observadas, vigiadas, despidas,vestidas de novo, contempladas, amadas, invejadas, odiadas pedidas em casamento e em divórcio...ninguém sabia o que se passava na cabeça daqueles caras, entretanto nem todas as alternativas acima, fogem totalmente a realidade.
Depois de sermos comidas com os olhos, nos sentamos. Aí então, começamos a alimentar nossas imaginações também - alguns sinuqueiros podem ser bem atraentes -olhares daqui, olhares de lá...jeitinhos e flertes,o garçom nos chama.
-A mesa de sinuca está livre, moças.
-Ah, obrigada.
Nos levantamos, rumo a mesa verde com os buracos e as bolas coloridas. Novos olhares,novas secadas
Olhamos em volta e só haviam homens,mesas com muitos homens em volta de homens,fumando, bebendo e jogando sinuca,fazendo um programa clássico de homens
Empolgadas, dizíamos:
- Ótimo ,vai ser divertido.
-Finalmente conseguiremos. Nenhum amigo, namorado, irmão,primo ou afins dando opiniões.
Para começar, seria interessante se conseguíssemos nos movimentar em volta da mesa, haviam no mínimo seis ou sete caras, nem namorados, nem amigos e muito menos irmãos, estranhos que supervisionavam nosso jogo.
Depois de reclamações em voz alta,e de empurrões sutis, saíram da “nossa área”.
Sim, jogamos mal,sim...não sabemos jogar.
Nunca tivemos um pai que nos levasse à locais assim, para que pudéssemos segurar o taco de maneira firme, para que aprendêssemos a calcular aonde mirar e onde acertar. Nosso primeiro copo de cerveja foi às escondidas, nossa primeira vez também,quantas outras iniciações tivemos sem apoio? Tudo bem, existem milhares de diferenças entre o universo feminino e o masculino, só não nos cobrem competência, em todas as áreas da nossa vida, ok?
Como aprender se não há espaço?
Continuando:
10 minutos de jogo, duas bolas encaçapadas e no mínimo 10 comentários do tipo: “mira ali, que tu acerta aqui”...ou então, “segura o taco com mais firmeza,gata” ou “ o segredo, é segurar assim, ó”
Ok, ok...but: Quem perguntou? Quem pediu sua ajuda?
Mais meia hora de assédios e ironias.
Que coisa, será que é tão difícil assim, jogar sinuca?
Cervejinhas, cigarrinhos, risos e...
O garçom vem e se coloca ao meu lado:
- só tem profissional aqui, heim?
Ora, pegue a sua ironia e enfia na caçapa da esquerda.
Tomei distancia do sujeito, não queria discussão nem nada do tipo, a intenção era jogar sinuca,então, cadê meu taco?
Uhuul, finalmente acertamos a bola preta.
Fim de Jogo, mais uma partida?
Vamos lá, e aproveita e traz mais uma “loira”(expressão misógina, mas divertida), garçom.
Ele a traz, e junto a ela... um amigo.
O individuo se posiciona atrás de nós, com olhar irônico e postura de macho.
- Assim, joga aqui, acerta ali e faz isso e aquilo.
Depois de algum tempinho, tínhamos enfrentado agressões verbais travestidas de ironia, assédios, pressões, cobranças e por aí vai. Os homens do recinto acreditavam realmente que precisávamos deles, e acreditavam tanto e tão vorazmente que nos forçavam a crer nisso também. Aliás, os homens das nossas vidas também pensam assim.
“ Os homens precisam se sentir úteis, entenda”
Ouvimos isso, a vida toda.
-Entendo meu querido, não temos a mínima intenção de fazê-los sentirem- se inúteis, mas, para isso é necessário que nós nos sintamos?
Ok, nos enchemos.
- Olha aqui moço, não queremos um técnico, viemos jogar e só, vaza.
O sujeito sai, não sem olhar com desdém.
3 partidas horríveis, cervejas e cigarros e horas de risos.
Saldo da noite: positivo.
No outro dia comentávamos sobre a quantidade de machos que nos abordaram, quantos técnicos e braços fortes que os mesmos supunham que precisávamos, quantas opiniões que não pedimos, quantas falas que acalentavam no momento que não pedimos, quantas tentativas de aproximação absurdamente frustradas. Perguntávamos-nos, se fossem quatro caras,tentando jogar, quatro caras sem técnica, tentando aprender, haveriam tantos técnicos, tantas opiniões e aproximações?
Resposta: não, com toda a certeza, não.

É, temos que repetir o programa, é libertador exercitarmos essa autonomia.
E afinal, resolvemos tudo com muita classe, diga-se de passagem.
A intenção não era a de nos auto-afirmarmos, nem de chamarmos atenção, nem viver um momento sexista e muito menos qualquer outra coisa que possam supor.
Tudo o que queríamos, era jogar sinuca, beber e conversar. Coisas que mulheres e homens adoram fazer, pena que ainda existam ambientes restritos a um ou outro sexo.
Aprendi a andar, ler e escrever, vou aprender a jogar sinuca. Aham, aham vou sim, questão de honra.
Vamos a sinuca de saia e brincos, falemos de assuntos que costumamos falar, sejamos frágeis ou grosseiras...sejamos nós, com tudo dentro do pacote.
Se não sabemos jogar, calma...um dia aprendemos.
Não é assim com a vida? Aprendemos a fazer mil coisas, podemos aprender a ser mulheres autônomas ( e isso exige: exercício) mulheres livres, mulheres sinuqueiras, violeiras, motoristas, engenheiras, jogadoras de futebol, bailarinas e enfermeiras. Para começar: a regra básica é a seguinte, o importante é acertar a bola branca.

O início

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